segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Bologna ainda deixa saudade .


Bologna

        Li  a reportagem  com um saudosismo inexplicável . Até mesmo por que frequentei muito pouco o Bologna antigo .  Eu talvez  tenha me  nutrido   pelo idealismo de recuperar   a memória da  cidade  .
A iniciativa destes empresários  me fez pensar que  finalmente resolvemos preservar nossa memória e tradição , bem  na contramão das evidências que colho no dia-a-dia  com  empreendimentos  que cada dia tem vida mais curta , abrindo e  fechando  com a rapidez impressionante da antropofagia digital paulistana  em  velocidade de banda larga  4G  .
         Enchi meu coração de esperanças e fui almoçar no Bologna em pleno sábado de  carnaval.
 Logo ao chegar  me decepcionei com as opções  arquitetônicas . O novo Bologna está mais para um exemplar legítimo da arquitetura de panificadora ( eu brinco comigo mesmo que , se fosse aluno de arquitetura,  meu TCC seria sobre arquitetura de padaria ),  que para resgate de qualquer tradição.  A referência mais evidente a arquitetura dos anos 50 é o espelho jateado com a data da abertura do Bologna antigo e um friso dourado ondulado e largo.
       Os garçons esbaforidos corriam  de um lado para o outro parecendo  não acreditar no fluxo constante de saudosistas  como eu .  Sentamos em uma mesa vaga , ainda suja , e pedimos  um chope,  secos para  acompanhá-lo com  uma empada quebradiça ou  um camarão empanado  levemente apimentado .
      Encarei a segunda decepção da tarde :
      -  Senhor , não servimos bebidas alcoólicas .
      -  Então  uma coca zero, amigo .
        Ainda estava esperançoso .  Levantei da mesa e fui dar uma olhada nos balcões . Para meu alívio , logo avistei o balcão de salgados e uma bandeja cheia de coxinhas-creme e  camarões empanados . Lamentei mais uma vez a falta da minha cerveja .
       O sistema de pedidos é bem atrapalhado , gente das mesas , misturadas a passantes , cozinheiros , atendentes , garçons ,  gerentes . Nem mesmo os uniformes deram  conta de ajeitar as informações na minha cabeça . Penso que com o tempo  algum arranjo  novo deverá aparecer . Ao final  tudo dá certo . Mas infelizmente  , este fim de semana ainda era um começo , e um começo bem atrapalhado .
        Continuei  meu tour pelas vitrines , vazias , como se sentissem um movimento acima do esperado . Poucas maioneses e saladas russas com jeitnao de antigamente, nenhuma massa , alguns frangos girando nos fornos gigantescos  atrás do balcão e um abnho maria com a farofa e a bata que acompnha os galetos . Nada muito apetitoso,  que me fizesse ter vontade de encher o freezer de casa .
        Voltei ao balcão de salgados com a impressão de  que dia melhores virão . Antes de voltar a mesa  , agarrei uma coragem e enfrentei a fila por umas coxinhas e alguns camarões empanados .
         O garçom finalmente levou o cardápio a mesa . As fotos  em estilo kitsch retrô do cardápio são bem humoradas , mas confesso que eu esperava coisa melhor . Cada um fez o seu pedido  e aguardamos . Finalmente dei a primeira mordida no meu camarão empanado e , por um segundo ,  achei bom ter decidido ir almoçar no Bologna.  A  massa estava crocante , saborosa e os camarões firmes como  esperado.  O salgadinho tinha sabor de saudade.
        Chegaram os pratos que não impressionaram  pela qualidade mas não trouxeram surpresas desagradáveis .  Desagradável foi a  garota de calças cor-de-rosa que amarrou seus  cachorros do lado de fora e deixou os bichinhos latindo e enlouquecendo a clientela por mais de  15 minutos .
        Nós corremos para acabar nossos pratos , enquanto a mal educada cliente  impunha a todos no estabelecimento os latidos de seus cães . Infelizmente civilidade  é uma noção pouco em voga  .  Fiquei torcendo para que os cães  derrubassem as compras dela a caminho de casa .
        Levantamos rapidamente para nos vermos livres dos latidos,  mas paramos no balcão de sorvetes . Minha mãe queria  tomar um “ Cremino de liquore “ , sabor que  lembrava dos tempos de escola . Mas ela e o cliente que estava ao nosso lado  tiveram que se contentar cm um bom sorvete crocante , feito com ingredientes da Fabri e com  uma boa textura de Gelato Italiano.
        Tomamos nossos sorvetes e nos encaminhamos ao caixa para pagar . Ali  a arquitetura de padaria , a origem dos empreendedores e o sistema operacional do novo Bologna se juntaram  e fizeram a síntese da nossa experiência  : O novo Bologna guarda muitas memórias , algumas boas receitas, mas está mais para uma padaria 24 horas que para a minha  vaga lembrança de uma das mais tradicionais rotisserias da cidade .






Bolonha ainda deixa saudades .


Bologna

Li  a reportagem no jornal com um saudosismo inexplicável . Até mesmo por que frequentei muito pouco o Bologna antigo .  Meu saudosismo talvez  tenha sido nutrido   pelo idealismo de recuperar   a memória da  cidade  .
A iniciativa destes empresários de reabrir o Bologna ,  me fez pensar que finalmente resolvemos preservar nossa memória e tradição . Na contramão das evidências que colho no dia-a-dia , uma vez que  os empreendimentos  tem cada dia vida mais curta,  fechando  com a rapidez impressionante da antropofagia digital paulistana  na velocidade  4G  .
Enchi meu coração de esperanças e fui almoçar no Bologna em pleno sábado de  carnaval .
 Logo ao chegar  me decepcionei com as opções  arquitetônicas . O novo Bologna está mais para um exemplar legítimo da arquitetura de panificadora ( eu brinco comigo mesmo que se fosse aluno de arquitetura meu TCC seria sobre arquitetura de padaria ) que para resgate de qualquer tradição . A referência mais evidente a arquitetura dos anos 50 é o espelho jateado com a data da abertura do Bologna antigo .
Os garçons esbaforidos corriam  de um lado para o outro parecendo  não acreditar no fluxo constante de saudosistas  como eu .  Sentamos em uma mesa vaga , ainda suja , e pedimos  um chope,  secos para que pudesse acompanhá-lo com  uma empada quebradiça ou  um camarão empanado  levemente apimentado . 
Encaro a segunda decepção da tarde :
-  Senhor , não servimos bebidas alcoólicas .
-  Então  uma coca zero, amigo .
Ainda estava esperançoso .  Levantei da mesa e fui dar uma olhada nos balcões . Para meu alívio , logo avistei o balcão de salgados e uma bandeja cheia de coxinhas-creme e  camarões empanados . Lamentei mais uma vez a falta da minha cerveja .
O sistema de pedidos é bem atrapalhado , gente das mesas , misturadas a passantes , cozinheiros , atendentes , garçons ,  gerentes . Nem mesmo os uniformes deram  conta de ajeitar as informações na minha cabeça . Penso que com o tempo  algum arranjo  novo deverá aparecer . Ao final  tudo dá certo . Mas infelizmente  , este fim de semana ainda era um começo , e um começo bem atrapalhado .
Continuei  meu tour pelas vitrines , vazias , como se sentissem um movimento acima do esperado . Poucas maioneses e saladas de batata , nenhuma massa , alguns frangos girando nos fornos gigantescos  atrás do balcão . Nada muito apetitoso,  que me fizesse  num impulso ter vontade de encher o freezer de casa .
 Voltei ao balcão de salgados com a impressão de  que dia melhores virão . Antes de voltar a mesa  , agarrei uma coragem e enfrentei a fila por umas coxinhas e alguns camarões empanado .
O garçom levou o cardápio a mesa . As fotos  em estilo kitsch retrô são bem humoradas , mas confesso que eu esperava coisa melhor . Cada um fez o seu pedido  e aguardamos . Finalmente dei a primeira mordida no meu camarão empanado e , por um segundo ,  achei bom ter decidido ir almoçar no Bologna .  A  massa estava crocante , saborosa e os camarões firmes como  esperado  .  O salgadinho tinha sabor de saudade .  
Chegaram os pratos que não impressionaram  pela qualidade mas não trouxeram surpresas desagradáveis .  Desagradável foi a  garota de calças cor de rosa que amarrou seus dois cachorros do lado de fora e deixou os bichinhos latindo e enlouquecendo a clientela por mais de  15 minutos .  
Nós corremos para acabar nossos pratos , enquanto a mal educada cliente  impunha a todos no estabelecimento os latidos de seus cães . Infelizmente civilidade  é uma noção pouco em voga  .  Fiquei torcendo para que os cães  derrubassem as compras dela a caminho de casa .
Levantamos rapidamente para nos vermos livres dos latidos,  mas paramos no balcão de sorvetes . Minha mãe queria  tomar um “ Cremino de liquore “ , sabor que  lembrava dos tempos de escola . Mas ela e o cliente que estava ao nosso lado  tiveram que se contentar cm um bom sorvete crocante , feito com ingredientes da Fabri e uma boa textura de Gelato Italiano.
Tomamos nossos sorvetes e nos encaminhamos ao caixa para pagar .
Ali  a arquitetura de padaria , a origem dos empreendedores e o sistema operacional do novo Bologna se juntaram  e fizeram a síntese da nossa experiência  : O novo Bologna guarda muitas memórias , algumas boas receitas, mas está mais para uma padaria 24 horas que para a minha  vaga lembrança de uma das mais tradicionais rotisserias da cidade .